terça-feira, 25 de março de 2008

As profissões do futuro

Letícia Fagundes O debate sobre o uso científico de células-tronco de embriões, a importância do mapeamento genético, os mistérios do DNA: essas têm sido discussões freqüentes na mídia e na sociedade. Temas fundamentais para a busca da cura de doenças, que podem trazer num futuro próximo melhorias na qualidade de vida de muitas pessoas. "Alguns estudos mostram benefícios do uso de células-tronco adultas na área de Cardiologia, Neurologia, Endocrinologia e Ortopedia, entre outras. Esperamos que toda a discussão atual traga benefícios para a ciência através do desenvolvimento de tecnologias e na recuperação funcional de tecidos - e, com isso, na melhoria da qualidade de vida dos indivíduos beneficiados", afirma Suzete Cerutti, coordenadora do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp. Se o mundo tem vivido a efervescência desse debate, os biólogos geneticistas se debruçam literalmente sobre o assunto, trabalhando horas a fio nos laboratórios de pesquisas. Tanto trabalho exige entrega total do profissional. Mas, segundo Monize Lazar, compensa: "É muito gratificante saber que, mesmo que ainda não seja possível oferecer nada de concreto para determinados pacientes, estou colocando um tijolinho ali para quem sabe um dia ser possível. Eu me sinto muito feliz por poder falar para os pacientes, para as pessoas que sofrem com alguma doença incurável: 'olha, tem gente que cuida de você, faz pesquisa e se preocupa. Vocês não estão abandonados'." Formada há dois anos, a bióloga geneticista trabalha no Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo - USP, um dos principais laboratórios de pesquisa genética do mundo. Ela conta que escolheu a profissão quando estava no último ano do colégio, justamente quando começou a acompanhar as novidades no campo da genética. "Sempre gostei muito de Biologia, e no ano 2000, quando estava no 3º ano, prestes a definir o que prestaria no vestibular, os pesquisadores completaram o mapeamento do genoma humano, identificando as posições de diversos genes, o que teve uma importância muito grande. E isso me chamou muito a atenção. Decidi, então, que faria Biologia para trabalhar com Genética." Hoje, oito anos depois, ela garante que não se arrepende da escolha. "Eu considero uma paixão." PROFISSÃO DO FUTURO O biólogo geneticista tem formação em Ciências Biológicas, uma área em extrema expansão. Segundo a professora Suzete, a Biologia está entre as 10 profissões do novo milênio, com participação efetiva nas áreas de: Saúde, Engenharia Genética, Microbiologia, Agronomia e Meio Ambiente. Ela aponta algumas aptidões que o jovem que quer seguir a carreira deve ter:

Interesse em pesquisa e no estudo de organismos vivos ou fósseis;
Capacidade de observação apurada;
Abordagem lógica para resolver problemas;
Boa capacidade de comunicação oral e escrita;
Saber trabalhar em equipe e também de maneira independente. Ela ainda avisa aos



pesquisadores brasileiros: a carreira não é lá das mais fáceis. "Os recursos destinados à pesquisa no Brasil são provenientes do governo federal e do governo estadual. No Estado de São Paulo, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP tem sido de extrema importância para formação dos profissionais e desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Já a participação do governo federal na pesquisa passou por processos que envolveram desde o ‘desincentivo’ à carreira até o desestímulo total, com redução significativa de verbas destinadas à pesquisa." Atualmente, a educação no Brasil passa por processo de reestruturação, e isso envolve incentivo por meio de várias agências de fomento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, a Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior – CAPES. "Logicamente, todo processo de reestruturação está no início e ainda é acanhado em relação às necessidades do Brasil para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia", conclui a professora. Os desafios não acanham Tiago Vidal, que cursa o segundo ano de Ciências Biológicas na Unifesp. "O momento é muito bom para o profissional da minha área. Há muito ainda a ser discutido. Antigamente, ninguém falava de células-tronco, por exemplo. Agora, o debate é amplo. Antes, eu tinha uma visão bem restrita da profissão, mas há uma área muito grande para atuar." Tiago já está fazendo o trabalho de iniciação científica e escolheu a área de Biomedicina e Genética para se aprofundar. Ele garante estar muito animado: "Gosto da oportunidade de descobrir coisas novas. A gente consegue decifrar o código genético humano, mas ainda não consegue entender diretamente o que cada parte do código faz. Quero fazer isso. E na hora que você começa a conhecer genética a fundo, você fica apaixonado."

Nenhum comentário: