Nessa área mais do que em qualquer outra, o fenômeno do "bacharel de concursos", que, muito antes de concluir o ensino superior, programa-se exclusivamente para uma das muitas carreiras estampadas nos editais de concursos públicos. Juiz, com certeza, é a mais atraente.
Mas promotor não fica muito atrás.A perspectiva de um salário que permita formar patrimônio, da segurança de um plano de saúde, além, claro, do prestígio e da estabilidade torna essas carreiras não apenas atraentes, mas, em muitos casos, razão de ser de todos os anos de estudos e das noites maldormidas em cima de livros e apostilas.
Não é para menos. Até porque não se deve censurar quem sonha com a melhoria do seu padrão de vida e luta por ela.Mas, se fôssemos confiar exclusivamente na sorte, o país baniria de seu território os empreendedores.
A vida segue além das loterias, assim como dos concursos, que, antes de serem encarados como uma obsessão, melhor seria se fossem vistos como oportunidades naturais que a carreira oferece.
Há uma nítida diferença entre se preparar para uma carreira e se preparar unicamente para concursos. Preparar-se para uma carreira significa assumir o espírito crítico que a formação jurídica exige, com ênfase no entendimento do papel regulador que o advogado, o juiz e o promotor exercem na sociedade. É necessário consolidar uma base humanística e ética para compreender que, na esfera da administração da Justiça, o rito de passagem se dá pelas portas de um bom curso de direito.
É esse ambiente que capacita seus alunos, até mesmo para prestar concursos públicos. O desprezo dessa etapa, em nome da focalização nos concursos, gera profissionais deficientes e infelizes, a um custo futuro alto para a sociedade.
JOSÉ FRANCISCO SIQUEIRA NETO é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas
Nenhum comentário:
Postar um comentário